quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Ciclo Rubem Braga

Ciclo “100 anos de Rubem Braga”
05 de fevereiro a 28 de maio
        

Um pouco de Rubem Braga

Cachoeiro de Itapemirim (ES) nem sabia ainda, mas o dia 12 de janeiro de 1913 a inscreveria para sempre na História: nascia ali, naquela data, Rubem Braga, um dos maiores cronistas da literatura nacional.
Ele se formou em Direito, mas nunca advogou, não quis seguir essa carreira: apaixonou-se pelo ofício do jornalismo e foi no exercício dessa profissão que se formou como cronista. Escreveu para vários jornais e revistas em diferentes estados do Brasil e foi correspondente de jornais brasileiros no exterior.
“Sempre gostou de viajar, escrevendo para vários jornais brasileiros reportagens sobre os países onde esteve, como Paraguai, Colômbia, Cuba, México, Estados Unidos, Portugal, Itália, Inglaterra, Grécia, Angola, Moçambique, África do Sul e Índia. Viveu em Paris durante o ano de 1950, de onde enviou regularmente crônicas para o Correio da Manhã.” (BRAGA, 1986).
“Apesar das muitas viagens e da experiência cosmopolita, Rubem Braga nunca desprezou sua origem capixaba: sua cidade natal, Cachoeiro de Itapemirim, é uma espécie de foco poético de seus textos, freqüentemente voltados para as fontes da infância e das lembranças daquela terra:
Hoje minha mãe já não faz a longa e penosa caminhada, sob o sol de Cachoeiro, para ir ao lado de lá do rio assistir à missa. Atravessou a ponte todo domingo durante muitas e muitas dezenas de anos, e está velha e cansada. Não me admiraria saber que Deus, não recebendo mais sua visita, mande às vezes, por consideração, um santo qualquer, talvez Francisco de Assis, fazer-lhe uma visitinha do lado de cá, em sua velha casa verde. (“Lembrança de Zig”)” (HAFEZ, 1997, p. 8-9).
Embora tenha escrito contos, sua maior e mais conhecida produção foi a crônica, dando-lhe um status literário nem sempre reconhecido para esse gênero discursivo. Segundo alguns críticos, a crônica é considerada um gênero menor, sem o valor literário das produções de poetas, contistas, novelistas e romancistas. Na contramão das ideias dos críticos, Rubem Braga provou que a crônica pode estar entre os gêneros literários de primeira ordem. Suas crônicas líricas, poéticas, levam o leitor a descobrir beleza, ternura e encantamento em pequenos e aparentemente insignificantes fatos do dia a dia, da vida corriqueira e da enfadonha rotina das pessoas. Tudo adquire um tom luminoso em suas mãos.
Um exemplo dessa sua capacidade de em tudo ver beleza e expressá-la poeticamente pode-se encontrar em “Um pé de milho”: “[...] Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou. Há muitas flores belas no mundo, e a flor de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão firme, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que fazem bem. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. [...]” (BRAGA, 1978, p. 43). Ou, na crônica “Neide”: “[...] O céu está limpo, não há nenhuma nuvem acima de nós. O avião, entretanto, começa a dar saltos, [...]. olho pela janela: é que estamos sobrevoando de perto um grande tumulto de montanhas. As montanhas são belas, cobertas de florestas; no verde-escuro há manchas de ferrugem de palmeiras, algum ouro de ipê, alguma prata de imbaúba – e de súbito uma cidade linda e um rio estreito. Dizem-me que é Petrópolis. [...]”. (BRAGA, 1986, p. 57). São dois exemplos apenas, mas que ilustram bem a forma pela qual Braga elaborava seus textos.
Em 1936, publicou seu primeiro livro, uma coletânea de crônicas: “O conde e o Passarinho”. E, desde então, publicou vários livros de crônicas, sua mais vasta produção. Também escreveu poemas, mas como poeta era considerado um autor bissexto, produzindo rara e esporadicamente. “Os poucos poemas que escreveu foram reunidos em 1980 no volume Livro de Versos, publicado em Recife” (HAFEZ, 1997, p. 9).
A 19 de dezembro de 1990, no Rio de Janeiro, encerrou seu ciclo de vida entre nós, mas deixou, para sempre, seu inestimável legado: suas crônicas e contos em que acontecimentos diários e pequenos “causos” de que tem notícia são temperados com a poesia que parece ser “seu estado natural de espírito, [...] seu clima” (MILIET, in HAFEZ, 1997).


Referências:

1-    BRAGA, Rubem. O verão e as mulheres. 5.ed. Record, 1986.
2-    BRAGA, Rubem. 200 cronicas escolhidas: as melhores de Rubem Braga. 5.ed. Record, 1978.
3-    HAFEZ, Rogério. Os melhores contos de Rubem Braga. Análise e exercícios de Rogério Hafez. Coleção Objetivo – os livros da FUVEST. São Paulo, 1997.
4-    MILIET, Sérgio. In HAFEZ, Rogério. Os melhores contos de Rubem Braga. Análise e exercícios de Rogério Hafez. Coleção Objetivo – os livros da FUVEST. São Paulo, 1997.


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