segunda-feira, 30 de maio de 2016

Reunir-se em torno do ato de ler: que significado isso tem?

Célia Regina Guedes Licas
Cristina Tisuko Maeda Saito
Dirceu Silva
Flanir Valente
Iraci Pereira Mesquita de Melo
José Carlos Caetano
José Sidnei Bastos
Maria Ivone dos Santos Pandolfi
Orciza C. Salgado
Stela Miller (Coordenadora)

Introdução
“Ler é uma viagem” já foi mote de propaganda para a leitura. De fato, a leitura de um livro qualquer nos transporta ao universo representado em suas páginas impressas. Se é um livro de aventuras, vivenciamos, por alguns momentos, situações experimentadas pelos personagens criados pela fértil imaginação do escritor. Se é um drama, e um personagem sofre, sofremos junto com ele. Se é comédia, nos alegramos e rimos das situações que encontramos expressas em palavras. Criamos, então, um universo paralelo, visitado sempre que estamos diante de um livro aberto; só quando o fechamos, nos descobrimos novamente de volta ao mundo real.
Essa volta, indubitavelmente, nunca é para o mesmo mundo, porque, no processo de buscarmos a significação para o lido, voltamos diferentes, com mais conhecimentos, com nova visão das coisas, novos pensamentos; com vivências ampliadas pela incorporação das experiências do outro no plano da imaginação; sensibilizados pelas situações descritas e pelas ações praticadas pelo outro, e, com tudo isso, nosso olhar para o mundo se altera; ele passa a ser compreendido e sentido de forma diferente pela nossa subjetividade, apresentando-se a nós como um mundo diferente.
Podemos encontrar a razão de tais transformações no fato de que “os atos de compreensão envolvidos no processo de constituição do significado capacitam o leitor a refletir sobre si mesmo e a descobrir um mundo a que até então não tivera acesso.” (ZILBERMAN, 2001, p. 52). Experimentamos a alteridade e, nela, encontramos espaço para pensarmos sobre questões que nos afetam, que nos sensibilizam, embora não façam parte de nossas relações efetivamente estabelecidas no meio em que vivemos, mas que se nos apresentam no universo ficcional do texto criado pela imaginação do autor.
Wolfgang Iser (apud ZILBERMAN, 2001, p. 52), a esse respeito, diz: “[...] pensar pensamentos de outros não quer dizer apenas compreendê-los; tais atos de compreensão só podem ser bem sucedidos se eles ajudam a formular alguma coisa em nós”. Isso implica que o ato de compreensão envolve a capacidade para estabelecer o significado de uma dada situação, mas, ao mesmo tempo, provoca, pela inteligibilidade obtida, uma reação emocional no leitor, tocando sua sensibilidade e afetando seu pensamento a respeito da realidade que o cerca. Cognição e afeto caminham juntos, de forma inter-relacionada, na produção não apenas dos significados, conseguidos pela internalização das informações contidas no texto objeto de leitura, mas também dos sentidos pessoais construídos a respeito daquilo que o leitor, por meio das vivências experimentadas no exercício da alteridade, percebe e sente de tudo o que leu.
Nessa relação dinâmica entre texto e leitor, este se configura, em contrapartida, como o agente que dá significado à obra, pois ela só se torna completa ao ser lida e compreendida pelo leitor. Nesse processo, “nenhum leitor absorve passivamente um texto; nem este subsiste sem a invasão daquele, que lhe confere vida, ao completá-lo com a força de sua imaginação e o poder de sua experiência.” (ZILBERMAN, 2001, p. 51).
Ao definir obra de arte literária, Anatol Rosenfeld (apud CUNHA, 1999, p. 56) afirma: “A obra de arte literária é a organização verbal significativa da experiência interna e externa, ampliada e enriquecida pela imaginação e por ela manipulada para sugerir as virtualidades desta experiência.” Ao criar, o autor serve-se de toda a sua experiência adquirida por sua participação no mundo em que vive, e, tomando-a, utiliza o filtro de sua subjetividade para construir personagens, fatos, circunstâncias, enredos e realidades, pela via de sua imaginação criadora, que, embora tenha uma base objetiva sobre a qual se sustenta, cria um mundo ficcional em que as vivências do outro são virtualmente as do próprio leitor no momento em que se encontra realizando o ato de ler. Depois de concretizar esse ato, o leitor retorna ao mundo real, de onde temporariamente saiu, com algo a mais que o diferencia de seu modo de ser anterior à leitura feita, uma vez que, como afirma Rosenfeld (apud CUNHA, 1999, p. 57), “[...] a literatura amplia e enriquece a nossa visão da realidade de um modo específico. Permite ao leitor a vivência intensa e ao mesmo tempo a contemplação crítica das condições e possibilidades da existência humana”.
Alberto Manguel (2012) falando de suas impressões acerca da leitura que fazia da obra do poeta Walt Whitman afirma que, para este último,
[...] texto, autor, leitor e mundo espelhavam-se uns aos outros no ato da leitura, um ato cujo significado ele expandiu até que servisse para definir cada atividade humana vital, bem como o universo no qual tudo acontecia. Nessa conjunção, o leitor reflete o escritor (ele e eu somos um), o mundo faz eco a um livro (livro de Deus, livro da Natureza), o livro é de carne e sangue (carne e sangue do escritor, que mediante uma transubstanciação literária se tornam meus), o mundo é um livro a ser decifrado (os poemas do escritor tornam-se minha leitura do mundo). (MANGUEL, 2012, p. 196).
Viver esse tipo de experiência vicária tem sido uma necessidade na vida de muitas pessoas, como foi para Manguel, que construiu, a partir de suas vivências como leitor, “uma história da leitura” (MANGUEL, 2012). Em dado momento dessa “história”, Manguel expressa sua convicção de que “todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos para compreender, ou para começar a compreender. Não podemos deixar de ler. Ler, quase como respirar, é nossa função essencial.” (MANGUEL, 2012, p. 20).
Essa necessidade moveu, desde o ano de 2000, um grupo de pessoas a unirem-se em torno do ato de ler, no interior do Projeto UNATI – Universidade Aberta à Terceira Idade – da Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP – Campus de Marília (um projeto de extensão vinculado à PROEX que visa à inserção social do idoso no meio acadêmico). Orciza C. Salgado, uma das participantes desse grupo que o integra desde o início de sua existência, conta-nos o que considera, em suas palavras, “Um pouco da história do grupo”:

“Começou com o nome pomposo de “Biblioterapia”; depois, por outras razões, ficou “Oficina de Leitura”. Gosto mais desse nome; antes parecia não sei o quê, e “oficina” não parece sala de aula.
Quando comecei era de terça-feira às 14 horas; depois, foi para as 16 horas até as 17 horas e, às vezes, era até as 20 horas. Teve muitas fases, muitos formatos, muitos alunos; foi se modificando, os alunos foram saindo; chegou um tempo que só tinha dois alunos: eu e Iraci. De repente, ela também desapareceu.
Outros anos, outros alunos, outras greves, a escola fechada; então resolvemos fazer as reuniões em nossas casas, na padaria, na lanchonete, e assim foi vindo sem nunca perder o que acho principal: um lugar de encontro com pessoas queridas, num ambiente de alto nível.” (Orciza C. Salgado).

No movimento de entrada e saída de seus membros, que renovam suas inscrições a cada ano, alguns chegam e depois se vão, por vários motivos. E, em um desses momentos, desafortunadamente, o grupo perdeu Luís Ortolani, que partiu sem nos dizer adeus, deixando em cada um as lembranças de seus poemas, depoimentos, sorrisos e amizade sincera.
Na “Oficina de Leitura”, onde o grupo se reúne em torno do ato de ler, textos literários, ou não, são lidos e comentados por seus participantes, e, para que fique registrada a memória desses momentos, também são redigidos, eventualmente, textos de sínteses, crônicas, poemas, paráfrases, paródias, e o que mais é decidido em cada etapa de trabalho.
Para este artigo, interessa-nos mostrar ao leitor o significado da participação de cada um dos membros do grupo na “Oficina de Leitura”, o que fazemos por meio da reprodução dos depoimentos que foram dados pelos participantes dessa “Oficina”. É o que veremos a seguir.

A “Oficina de Leitura” e seu significado para alunos da UNATI

Iraci, como Orciza, uma das que iniciaram o que se constituiria como “Oficina de Leitura”, com seu jeito poético de exprimir ideias e fazer comentários, explicita o que é, para ela, o significado que tem a “Oficina” para sua vida:
“OFICINA DE LEITURA ou AMIGOS DAS 3ªs FEIRAS À TARDE: O que é? Como explicar?
Tem atos na vida da gente que, uma vez aprendidos, não têm como explicar.
Uma pessoa, com exceção de casos patológicos, consegue, assim num repente, explicar o que é andar, comer, respirar?
Nossa primeira respiração é tão inusitada, dolorida, que choramos desesperados ao fazê-la. Momentos seguintes, já não conseguimos viver sem respirar e logo queremos engolir algo diferente do ar.
Passamos ao alimento com muita vontade e depois de alguns engasgos não nos esquecemos mais.
Como é mesmo que se respira, se come? Pra que respirar? Pra que comer?
Dá pra explicar o que é andar? Um pé após o outro, jogar o corpo pra frente com cuidado ou não, com medo ou não. Como é isto?
E dormir? Quer coisa mais inexplicável? Muitas vezes choramos para não dormir principalmente nas primeiras noites ou anos. Mais para frente, choramos para dormir nem que seja um pouquinho por noite.
Não dá para ser diferente. Não tem como explicar.
Assim foi com a Oficina de Leitura ou Grupo de amigos das terças à tarde. Um primeiro susto – o primeiro alimento. Depois outro, mais outro e mais um pouco, e eis que os sorrisos, as falas, os silêncios, as broncas e os abraços amigos se transformam em textos vivos que não nos permitem deixar de lado o ato de ler.
Ler as letras, os olhares, os gestos, o calor, o amor...
Não sei explicar o que significa isto. Sei viver. Melhor, não sei e nem quero desaprender o ato tão gostosamente aprendido.” (Iraci Pereira Mesquita de Melo)

O ato de ler em grupo e todas as modalidades de ações que se instalam a seu redor são vitais para ela, assim como o são o respirar, o alimentar-se e o dormir. A leitura dos textos e a leitura de tudo o que acontece ao redor dela, incluindo “os sorrisos, as falas, os silêncios, as broncas e os abraços amigos”, transformam-se em elementos vitais de sua existência. Ler, nesse espaço, é “Ler as letras, os olhares, os gestos, o calor, o amor...” É vida.
Sidnei, o mais recente participante da “Oficina de Leitura”, explica: “A UNATI foi algo de bom que encontrei em minha vida, atualmente”. (José Sidnei Bastos)
Mais especificamente, a respeito de sua participação no grupo, argumenta: “A “Oficina de Leitura” me mantém atento e desperta meu interesse e imaginação em seus vários aspectos.” E, num gesto de reconhecimento pelo acolhimento que teve no grupo, dirige-se a seus componentes: “Estou realmente satisfeito de estar aqui com vocês.”
Dirceu, há mais de uma década participando da “Oficina de Leitura”, assim se expressa:
De minha parte, a “Oficina de Leitura”, ou Sala de Leitura, representa três aspectos distintos: solidariedade, companheirismo e busca de conhecimentos.
Nela, estou aprendendo a viver bem, desfazendo-me da pecha da velhice em um grupo de idosos, que pensam diferente, mas com o mesmo ideal.
Descobri possibilidades de desenvolvimento da memória, pensando, refletindo e criando bons hábitos de leitura, o que me deixou mais bem informado e atualizado e está permitindo um crescimento potencial mesmo que tardio, embora saiba que para o aprendizado nunca é tarde.
Aprendi que sempre é tempo de produzir de acordo com nossas possibilidades, e vejo o otimismo de cada participante de forma contagiante e se agiganta dia a dia, e nestas participações todos convencem e são convencidos. (Dirceu Silva).

Anatol Rosenfeld (apud CUNHA, 1999, p. 57-58), falando especificamente sobre a função da literatura, afirma que “a literatura é o lugar privilegiado em que a experiência ‘vivida’ e a contemplação crítica coincidem num conhecimento singular, cujo critério não é exatamente a ‘verdade’ e sim a ‘validade’ de uma interpretação profunda da realidade tornada em experiência.” Essa possibilidade explica a razão pela qual, ao lermos, ampliamos e tornamos mais enriquecida nossa experiência, nossa visão de mundo, nossa capacidade de perceber e avaliar criticamente os fatos e de atuar de modo a transformar a realidade em que estamos inseridos.
Dirceu, em seu depoimento, faz, ainda, considerações a respeito do grupo que compõe a “Oficina de Leitura”:

“Participo da UNATI há treze anos, participei de quase todas as oficinas, mas a de leitura me prendeu, e cada dia que passa eu observo que o tempo representa oportunidades de novas aquisições, pois o grupo é presente e dinâmico.
A oportunidade de convivência com um grupo onde cada um traz experiências acumuladas pelo tempo, e procura expor suas ideias e seus sentimentos de valores que possuem agregados é de importância fundamental.” (Dirceu Silva)

Para falar sobre o significado que a “Oficina de Leitura” tem em sua vida, Célia aborda, inicialmente, seu fascínio pelos livros:
“O mundo da leitura me fascinou muito na juventude. Além dos livros sugeridos pelos professores, eu e algumas amigas sempre comprávamos livros de romances, trocávamos entre nós e até fizemos parte do Círculo do Livro por vários anos.” (Célia Regina Guedes Licas)
Tendo tido a necessidade de assumir outros projetos em sua vida, o contato mais assíduo com a leitura retornou com a “Oficina de Leitura”:
“Com a chegada da vida adulta, meu tempo era quase todo tomado pelo trabalho, a família e enfim outras prioridades. Hoje tenho, por intermédio da Oficina da Leitura, o privilégio de dedicar algumas horas por semana exclusivamente à leitura, a debates sobre alguns autores e suas diferentes formas de expressão e também receber indicações de leituras interessantes.
A reunião se faz às terças-feiras ao redor de uma mesa recheada de livros, artigos, pessoas interessantes, risos, e “comes e bebes”.
Resgatar o interesse pela leitura foi o principal objetivo de minha participação na Oficina de Leitura, mas ela é mais que isso.” (Célia Regina Guedes Licas)
Como se vê, uma vez estabelecido o vínculo com a leitura, ele nunca se perde. José Mindlin, famoso por sua condição de bibliófilo obstinado, explicava assim sua voracidade por livros: “Existe um certo conteúdo patológico no gosto pela leitura e na compulsão de comprar livros, mas é uma coisa que faz sentir bem, em vez de fazer sentir mal, e, além disso, é incurável: depois de começar, não se pára mais.” (MINDLIN, 1999, p. 101).
Caetano, assim como Célia, expressa seu apreço pelos livros e pela leitura, quando inicia sua fala sobre a importância da “Oficina de Leitura” em sua vida:
“Comecei minhas leituras logo que aprendi a ler, e isso aconteceu aos meus seis anos de idade. Eu frequentava assiduamente a Biblioteca de meu Grupo Escolar onde após a leitura tínhamos que fazer um resumo do texto lido. Essa atividade fez com que eu também aprendesse a escrever, além de melhorar meu vocabulário.” (José Carlos Caetano).
E continua sua explanação, contando a sua “história de leitura”, da infância à fase adulta:
“Livros de histórias infantis, contos de fadas e até “gibis” (revistas em quadrinhos que meu pai tanto abominava) fizeram parte de minha educação extra-curricular durante a infância.
Na adolescência ainda morando no interior li artigos de revistas, contos, reportagens, romances, livros didáticos e livros de ficção científica. Além disso, sempre gostei de História Universal e da História do Brasil. Nas aulas de português eu me destacava pelos textos escritos muito embora a gramática nunca tenha sido meu forte.
Quando adulto, da época da Faculdade até a vida profissional, já na Grande S. Paulo, eu passei a ler muito sobre Realismo Fantástico, Enigmas, Ufologia, Esoterismo, Autoajuda, etc... Eu era um comprador assíduo do “Círculo do Livro”, cujo representante visitava o Clube da empresa que eu trabalhava todos os meses, para fazer os pedidos e entregas; havia também entrega de brindes para os leitores mais assíduos.
Eu estava sempre à procura de explicações para fatos estranhos e bizarros, porém havia uma frustração por ter poucas pessoas com quem discutir e trocar ideias a respeito desses assuntos.” (José Carlos Caetano).
Na sequência, Caetano fala de seu ingresso na “Oficina de Leitura:
“Aposentado, vim para Marília, onde após um ano de residência entrei na UNATI. Sendo muito bem recebido pelos jovens estagiários da época. Logicamente que primeiramente me matriculei na Oficina de Leitura, além de ter feito várias oficinas tais como de Pintura em Tecidos, Filosofia, Contação de Histórias, Tai-chi-Chuan, Memória, Oficina de Voz e outras.” (José Carlos Caetano).
Afinal, relata o seu ponto de vista sobre a UNATI e a “Oficina de Leitura”:
“A Unati é um “lugar” onde podemos manter nossa mente em contínuo funcionamento e em plena forma, além de fortalecermos a amizade e cooperação com os alunos de todas faixas etárias e professores da UNESP.
Na Oficina de Leitura encontrei o que mais tinha procurado: pessoas de diversas formações com pontos de vistas distintos e muita experiência de vida para relatar.
Esta Oficina é a que mais me dá prazer, mesmo quando eu só tenho a ouvir o que os outros têm a dizer. O clima é fantástico: muita amizade e tolerância mesmo nos casos de discussões mais calorosas, onde se defendem pontos de vistas conflitantes.
Os professores que coordenaram e coordenam as atividades dessa oficina têm mostrado muita competência e conhecimento de Literatura em Geral e excelente trato com as pessoas.” (José Carlos Caetano).
Uma das realizações dos participantes da “Oficina de Leitura” foi a construção de um “blog”. Caetano revela isso em seu depoimento:
Nessa Oficina temos também o nosso Blog (contoprosa.blogspot.com) onde podemos expor nossos escritos e opiniões e também relatar os resultados de nossos estudos, leituras e discussões. (José Carlos Caetano).
E sintetiza sua avaliação sobre o valor que para ele tem ser membro da “Oficina de Leitura”: “O melhor de tudo é que continuamos jovens de espírito.” (José Carlos Caetano).

Orciza ressalta a importância que tem para ela o coletivo e as relações que se estabelecem dentro dele:
“A Oficina de Leitura significou e significa muito. Conheci tudo, aulas, colegas, professora, numa fase difícil. O contato com colegas que aos poucos foram se tornando queridos, amigos, companheiros, me ajudando a enfrentar uma situação sem retorno. As horas aqui passadas foram e são sempre prazerosas, num ambiente de alto nível cultural, social.
Temos e tivemos mestras dedicadas que, sem a obrigação de passar conteúdos, nos enriquecem a cada encontro na troca de conhecimentos com o grupo.” (Orciza C. Salgado).
Flanir assim se expressa em seu depoimento:
“Desde pequena gostava muito de ler, pesquisar, inquirir a natureza, conferir o que via com o conteúdo dos livros. Lembro que nessa época eu achava que a terra era plana... Sempre fui incentivada pelo meu irmão mais velho, por minha família, pelos professores de Penápolis – onde nasci-, pelo grupo de Teatro que participei quando adolescente.
E os assuntos que gostava de ler, que me interessavam, eram variados. De astronomia a Seleções Reader's Digest, revistas antigas (Capricho, Ilusão) a fotonovelas (não tinha televisão). Depois de lidas as revistas, os amigos trocavam entre si edições diferentes, então algumas iam ficando meio sujas, rasgadas, por passar de mão em mão.
Nas enciclopédias Barsa, Caldas Aulete, Delta Larousse, quantas pesquisas fiz. Hoje estão sendo substituídas por leituras digitais. Apesar de ter trabalhado com informática, acho que nunca vou perder o gosto por cheiro de livros. Mesmo que antigos, desgastados pelo tempo. De folheá-lo, fazer algumas anotações a lápis num cantinho de uma página.” (Flanir Valente).
Em seu depoimento, Flanir conta-nos como tomou conhecimento da UNATI e da “Oficina de Leitura” e narra suas impressões após ter já concretizado sua inserção nele:
Há dois anos mudei para Marília, vindo de Brasília, onde vivi 35 anos. Depois de aposentada decidi, por vários motivos, voltar ao interior de São Paulo.
Não foi fácil chegar à cidade, tendo poucos familiares aqui. E tendo deixado para trás toda uma vida. Sem querer, eu resistia a essa nova fase da minha vida.
Uma das coisas que me deixava inquieta é que em Brasília tinha participado de vários grupos de estudos, e aqui precisava de algo que me incentivasse mais e mais à leitura, à pesquisa, principalmente em grupo, pois as pessoas podem nos instigar o pensamento com mais força que se fizermos isso individualmente.
Um dia, numa cabeleireira, perguntei se ela sabia de algum grupo de Marília que fazia esse tipo de atividades, pois é uma cidade com muitas universidades. Bingo! Perguntei para a pessoa certa. Acho que por um desses acasos felizes que os Deuses nos presenteiam. Ela me indicou o nome de uma pessoa que participava de um grupo de leitura. Pedi a ela que passasse, por favor, meu telefone a ela. Em pouquíssimo tempo ela me ligou. Essa pessoa se chama Arlêta. E ela teve comigo uma conversa muito amigável, me explicou como funcionava a Oficina de Leitura me deixou tão entusiasmada que fui logo no próximo encontro do grupo, no início de 2012. E conversando com a coordenadora do grupo, Stela Miller, e com todos da Oficina, comecei a participar.
E as pessoas foram tão receptivas, tão amigas, que foram criados inclusive vínculos afetivos. Todas as trocas são muito importantes. São dicas de livros, de filmes, de eventos culturais, atividades beneficentes. No meio das atividades da Oficina, tão prazeroso tomar o café, os chás da Orciza, beliscando os quitutes que uns levam para a partilha com todos, com preciosos momentos de descontração.” (Flanir Valente).

Na sequencia de seu depoimento, Flanir ressalta as atividades que realiza nas sessões da “Oficina de Leitura” :
“As atividades na Oficina nos fazem pesquisar, pensar, sobre a obra de importantes autores da nossa literatura. E ao contrário do que se dizia há algumas décadas, as pessoas da Terceira Idade são sim intelectualmente produtivas. Têm conhecimentos que foram adquiridos pela vida e vontade de aprender sempre mais. E como são todos criativos! Estou aprendendo muito com as pessoas da Oficina.
Voltei até a fazer apresentações, pequenos vídeos digitais, pois atuei na Área de Informática. Numa das palestras que assisti na UNATI, um dos palestrantes Marcos Roberto Pereira Silva, Graduando em Arquivologia/UNESP, me indicou um programa para melhor fazer os vídeos. Veio instalar o programa no meu computador, e de vez em quando faço alguma coisa sobre os assuntos que estudamos. Todos me dão muita força até nisso, elogiando os trabalhos que faço.” (Flanir Valente).

Finalizando seu depoimento, Flanir avalia sua condição como participante da “Oficina” e aproveita para agradecer o acolhimento que teve no grupo:
“Percebi com toda essa experiência que não foi apenas um momento na minha vida que tive que dizer “Adeus a muitas coisas, pessoas, mas também de dizer “Olá!”.
Obrigada a todos pela experiência que estou tendo na Oficina de Leitura, especial e carinhosamente à Arlêta por ter me orientado a criar esse importante vínculo com a nova cidade que agora posso me dizer: enfim adaptada! E acolhida...” (Flanir Valente).

Maria Ivone, em seu depoimento, conta-nos que:
Como mulher de sessenta e três anos, aposentada, livre, independente e disposta a continuar aprendendo e trocando experiências em um ambiente acadêmico informal, sinto-me privilegiada por fazer parte desse projeto diferenciado para a terceira idade que é a UNATI.
A Oficina de Leitura, particularmente, tem um significado mais importante ainda na minha vida. É o local onde encontro meus iguais tão diversos, é onde o tempo psicológico torna possível o restante das horas. É o encontro de uma Irmandade. É essencial para minha sanidade física, mental, espiritual, psicológica, emocional.
Difere de uma terapia de grupo, mas tem resultados similares. Partilhamos nossas vidas, nossa bagagem, leituras, novidades, conhecimento e crescemos mental e intelectualmente, mas, principalmente, nos enriquecemos como seres humanos. (Maria Ivone dos Santos Pandolfi).
Cristina:
Desde que aprendi a ler, não parei mais. Lembro-me que, quando era criança, li várias vezes uma coleção sobre a história do Duque de Caxias que havia lá em casa. Naquele tempo, não tínhamos tanto material de leitura de que dispomos hoje. A paixão pela leitura sempre me acompanhou nas decisões que tive de tomar ao longo da vida. Saí de minha pequena cidade natal para estudar Letras aqui em Marília, tornei-me professora de Português e Inglês e, depois de trabalhar em escola pública por mais de 25 anos, me aposentei. Atualmente me dedico a  várias atividades de que sempre gostei como participar de Coral e praticar ioga; porém, sem sombra de dúvida, as atividades que considero mais prazerosas são as relacionadas ao ato de ler: meu trabalho de revisão de texto e especialmente a oficina de leitura. Neste espaço, tenho o privilégio de compartilhar ideias, criar vínculos de amizade e, sobretudo, aprender ou apreender a difícil arte de “envelhecer”. (Cristina Tisuko Maeda Saito)

Considerações finais
Para as conclusões ?
Numa obra de ficção, personagens, coisas, sentimentos, espaços e até o tempo aparecem de forma inacabada e descontínua, exigindo necessariamente a intervenção do leitor. Ele completa as lacunas colocadas pelo texto, tornando-se co-participante do ato de criação. (ZILBERMAN, 2001, p. 51)

A participação não se limita ao mero preenchimento dos vazios plantados pelo texto: como as orientações que recebe nunca estão plenamente definidas, dispersando-se ao longo do conjunto de palavras e sendo, às vezes, deixadas a seu critério, o destinatário é convidado a integrar-se no processo de constituição da obra, particularizando o processo de entendimento dela. (ZILBERMAN, 2001, p. 51)

Por sua vez, o texto se mostra também ativo: de um lado, depende da disponibilidade do leitor em reunir numa totalidade os aspectos que lhe são oferecidos, criando uma seqüência de imagens e acontecimentos que desemboca na constituição do significado da obra. Esse significado só pode ser construído na imaginação, depois de o leitor absorver as diferentes perspectivas do texto, preencher os pontos de indeterminação, sumariar o conjunto e decidir-se entre iludir-se com a ficção e observá-la criticamente. A conseqüência é que o destinatário apreende e incorpora vivências e sensações até então desconhecidas, por faltarem em sua vida pessoal. (ZILBERMAN, 2001, p. 52)

Se ler é pensar o pensamento de outros, é igualmente abandonar a própria segurança para ingressar em outros modos de ser, refletir e atuar. É, por fim, apreender não apenas a respeito do que se está lendo, mas, e principalmente, sobre si mesmo. (ZILBERMAN, 2001, p. 53)


Referências
CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: teoria e prática. 18. ed. São Paulo: Ática, 1999.
MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. 2. ed., 7ª. reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
MINDLIN, José. O bibliófilo e a leitura. In: ABREU, Márcia (org.) Leitura, história e história da leitura. Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil; são Paulo: FAFESP, 1999. – (Coleção Histórias de Leitura), p. 101.

ZILBERMAN, Regina. Fim do livro, fim dos leitores? São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2001. – (Ponto Futuro; 3).

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