05
de fevereiro a 28 de maio
Um
pouco de Rubem Braga
Ele se formou em
Direito, mas nunca advogou, não quis seguir essa carreira: apaixonou-se pelo
ofício do jornalismo e foi no exercício dessa profissão que se formou como
cronista. Escreveu para vários jornais e revistas em diferentes estados do
Brasil e foi correspondente de jornais brasileiros no exterior.
“Sempre gostou de
viajar, escrevendo para vários jornais brasileiros reportagens sobre os países
onde esteve, como Paraguai, Colômbia, Cuba, México, Estados Unidos, Portugal,
Itália, Inglaterra, Grécia, Angola, Moçambique, África do Sul e Índia. Viveu em
Paris durante o ano de 1950, de onde enviou regularmente crônicas para o Correio da Manhã.” (BRAGA, 1986).
“Apesar das muitas
viagens e da experiência cosmopolita, Rubem Braga nunca desprezou sua origem
capixaba: sua cidade natal, Cachoeiro de Itapemirim, é uma espécie de foco
poético de seus textos, freqüentemente voltados para as fontes da infância e
das lembranças daquela terra:
Hoje minha mãe já não
faz a longa e penosa caminhada, sob o sol de Cachoeiro, para ir ao lado de lá
do rio assistir à missa. Atravessou a ponte todo domingo durante muitas e
muitas dezenas de anos, e está velha e cansada. Não me admiraria saber que
Deus, não recebendo mais sua visita, mande às vezes, por consideração, um santo
qualquer, talvez Francisco de Assis, fazer-lhe uma visitinha do lado de cá, em
sua velha casa verde. (“Lembrança de Zig”)” (HAFEZ, 1997, p. 8-9).
Embora tenha escrito
contos, sua maior e mais conhecida produção foi a crônica, dando-lhe um status
literário nem sempre reconhecido para esse gênero discursivo. Segundo alguns
críticos, a crônica é considerada um gênero menor, sem o valor literário das produções
de poetas, contistas, novelistas e romancistas. Na contramão das ideias dos
críticos, Rubem Braga provou que a crônica pode estar entre os gêneros
literários de primeira ordem. Suas crônicas líricas, poéticas, levam o leitor a
descobrir beleza, ternura e encantamento em pequenos e aparentemente
insignificantes fatos do dia a dia, da vida corriqueira e da enfadonha rotina
das pessoas. Tudo adquire um tom luminoso em suas mãos.
Um exemplo dessa sua
capacidade de em tudo ver beleza e expressá-la poeticamente pode-se encontrar
em “Um pé de milho”: “[...] Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que
nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou. Há muitas
flores belas no mundo, e a flor de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão
firme, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho
vulgar com uma força e uma alegria que fazem bem. Meu pé de milho é um belo
gesto da terra. [...]” (BRAGA, 1978, p. 43). Ou, na crônica “Neide”: “[...] O
céu está limpo, não há nenhuma nuvem acima de nós. O avião, entretanto, começa
a dar saltos, [...]. olho pela janela: é que estamos sobrevoando de perto um
grande tumulto de montanhas. As montanhas são belas, cobertas de florestas; no
verde-escuro há manchas de ferrugem de palmeiras, algum ouro de ipê, alguma
prata de imbaúba – e de súbito uma cidade linda e um rio estreito. Dizem-me que
é Petrópolis. [...]”. (BRAGA, 1986, p. 57). São dois exemplos apenas, mas que
ilustram bem a forma pela qual Braga elaborava seus textos.
Em 1936, publicou seu
primeiro livro, uma coletânea de crônicas: “O conde e o Passarinho”. E, desde
então, publicou vários livros de crônicas, sua mais vasta produção. Também
escreveu poemas, mas como poeta era considerado um autor bissexto, produzindo
rara e esporadicamente. “Os poucos poemas que escreveu foram reunidos em 1980
no volume Livro de Versos, publicado
em Recife” (HAFEZ, 1997, p. 9).
A 19 de dezembro de
1990, no Rio de Janeiro, encerrou seu ciclo de vida entre nós, mas deixou, para
sempre, seu inestimável legado: suas crônicas e contos em que acontecimentos
diários e pequenos “causos” de que tem notícia são temperados com a poesia que
parece ser “seu estado natural de espírito, [...] seu clima” (MILIET, in HAFEZ,
1997).
Referências:
1-
BRAGA, Rubem. O verão e as mulheres.
5.ed. Record, 1986.
2-
BRAGA, Rubem. 200 cronicas escolhidas:
as melhores de Rubem Braga. 5.ed. Record, 1978.
3-
HAFEZ, Rogério. Os melhores contos de
Rubem Braga. Análise e exercícios de Rogério Hafez. Coleção Objetivo – os
livros da FUVEST. São Paulo, 1997.
4-
MILIET, Sérgio. In HAFEZ, Rogério. Os
melhores contos de Rubem Braga. Análise e exercícios de Rogério Hafez. Coleção
Objetivo – os livros da FUVEST. São Paulo, 1997.