A hora da estrela de Clarice Lispéctor é um livro que nos faz
refletir sobre a nossa existência, a nossa passagem pela vida.
É um livro que encanta e assusta.
Conta a história de uma moça de l9
anos vinda do sertão de Alagoas para o
“Sul
Maravilha”
em busca de uma vida melhor.
Seu nome, Macabéa, fora posto pela
mãe como pagamento de uma promessa “ se ela vingasse”.Vingou. Feia, mal acabada, sem corpo de mulher e com uma
fome secular e hereditária.
Perdera os pais muito cedo e fora
morar com uma tia beata.
Após a morte da tia que lhe pagara
um curso de datilografia foi morar num pensionato, dividindo o quarto com mais
quatro moças, todas Maria. Não se entrosara com nenhuma. Era invisível. Somente
a percebiam porque fedia, mas nada falavam para não ofendê-la.
Trabalhava em um escritório como
datilógrafa, mas sem instrução,cursara até o terceiro ano , primário, escrevia
errado e vagarosamente porque desconhecia as palavras.
Glória, sua colega de trabalho,
estenografa, ganhava melhor e representava a diferença norte/sul; loira,
bonita, atraente, sensual, sabia se comunicar.
Macabéa aprendera a falar, próprio
do ser humano, não a se comunicar. Sua cultura era restrita ao transmitido pela
´Rádio´Relógio. Inútil.
Não tinha sonhos somente desejos que
não sabia explicar.
Macabéa era um ser fora desse mundo,
viera de uma sociedade arcaica, onde a
sobrevivência era uma questão de sorte. A perspectiva de vida menor em
relação ao sul do país. Seu mundo infantil foi de fome, de miséria como a
maioria do sertão nordestino. Gente de envelhece antes do tempo e morre antes
da hora.
Chegar ao sul não significa vencer
. As barreiras são enormes, o preconceito isola. O isolamento leva a solidão.
Mas, num dia chuvoso ela
encontrou Olímpico, outro nordestino veio fugindo do passado para tentar ficar rico
me quem sabe virar deputado..
E pela primeira vez Macabéa se
torna visível.
Começaram a namorar. Não há
diálogo entre eles. Frases soltas. A
palavra não é um meio de comunicação,´só palavra.
O rompimento do namoro e a possibilidade
de perder o emprego a levam até uma
cartomante. Ex-prostituta, ex-cafetina e ganhando a vida agora, lendo cartas.
Outra invisível da sociedade. Mas o futuro de Macabéa será maravilhoso. Novamente
o emprego e o aparecimento de um
príncipe em sua vida que se tornará seu
marido.
Em êxtase, na esperança de
encontrar seu príncipe encantado, um
estrangeiro loiro de olhos de qualquer cor,
andou alucinada, sem prestar atenção ao seu redor, deslumbrada
finalmente seria alguém ,uma mulher e teria um futuro. Ao pisar na rua é
atropelada. Cai, não nas calçada mas na sarjeta.
O motorista foi embora,
deixando-a caída..
Os transeuntes se aglomeram,
nenhuma ajuda , nenhuma
solidariedade. Simplesmente a observam, tornando-se visível pela segunda vez.
E ali ela ficou, na sarjeta que
é o lugar dos enjeitados, dos diferentes, dos in visíveis que incomodam e atrapalham a existência dos “bem nascidos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário