Ciclo Vampiro
A Oficina de Leitura da UNATI inicia em 2010 um novo ciclo de estudos com o tema Vampiros e a proposta de traçar um paralelo entre a antiga lenda e a nova “onda” representada pela saga de Crepúsculo, Diários de um Vampiro e outros tantos (há hoje nas editoras 17 séries vampirescas).
Considerações preliminares
Os vampiros têm aparições antiqüíssimas na mitologia de muitos países. Há menções sobre eles em praticamente todas as culturas, inclusive na Assíria e na Babilônia, há mais de 3000 a.C. As superstições dessas várias culturas nos apresentam um vampiro folclórico, um ente fantástico que sai à noite da sepultura para sugar o sangue dos vivos e retorna, antes do dia clarear, ao seu caixão que geralmente contém um pouco de terra do lugar onde viveu.
Segundo as lendas, vampiro não faz sombra ou reflexo, é afastado com alho, água benta ou imagens da cruz e pode ser morto cravando-se uma estaca em seu coração, sendo decapitado, tendo seu sangue queimado ou destruindo-se seu esconderijo diurno.
Para a Psicologia, especialmente nos estudos de Jung, o vampiro é um símbolo. O vampiro é real e ocorre em vários povos, em diversas localidades e épocas diferentes no que se chama de inconsciente coletivo. O vampiro revelaria algo desconhecido e oculto de nós mesmos.
Mas, se os vampiros estão fazendo sucesso nos livros e nas telinhas hoje, conquistando os mais variados públicos, especialmente o jovem, é preciso ampliar a visão e assistir a algumas raridades de filmes clássicos de vampiros e ler uma literatura mais consistente sobre o tema:
Muitas personalidades da literatura escreveram sobre esses seres das trevas. Voltaire, Tolstoi, Alexandre Dumas, H. G. Wells, Arthur Conan Doyle e:
Goethe: O famoso autor alemão da época do Romantismo escreveu o poema "A noiva de Corinto", em 1797. A novidade é que esta foi uma das primeiras aparições de vampiros do sexo feminino na literatura. Naquela época, o ideal de beleza eram as mulheres muito pálidas, portanto as vampiras caíram como luvas para o poeta.
Joseph Sheridan Le Fanu: Escreveu o livro "Carmilla", que é anterior ao épico vampiresco de Stoker em 25 anos. A história possui um claro viés lésbico, pois a vampira só escolhe mulheres como vítimas. Este livro deu início ao estilo de roteiro das histórias de vampiros, o qual foi copiado por Stoker, pois há a parte do ataque, a conversão do atacado em vampiro e, no final, a caça e a morte do ser das trevas.
Bram Stocker: Escreveu “Drácula”, considerado um clássico, porque modificou para sempre as lendas de vampiros, definiu a origem da maldição e também a geográfica – a Transilvânia – desses misteriosos seres. A história de Stoker é a mais adaptada para os cinemas.
Anne Rice: Autora de uma série de livros conhecidos como "Crônicas Vampirescas", Ricce ficou famosa pela criação do personagem Lestat de Lioncourt, que aparece no exemplar "Entrevista com o Vampiro", em 1976. Outra adaptação para o cinema foi a história de "A rainha dos condenados", de 1988. A saga tem ao todo 10 livros, mas os últimos episódios não possuem a mesma vitalidade dos primeiros.
Laurell Kaye Hamilton: A escritora é contemporânea de Stephanie Meyer, da série "Crepúsculo". Sua série de livros é conhecida como "Anita Blake: Vampire Hunters", cujo primeiro livro "Prazeres Malditos" foi lançado este ano no Brasil. A personagem principal também é uma menina que se envolve com família de vampiros, assim como Bella de "Crepúsculo". Anita, ao mesmo tempo em que caça vampiros maus, começa a aprender e se relacionar mais com esses seres.
Alguns Filmes Clássicos de Vampiros:
1 – Nosferatu (1922, Alemanha), direção de F. W. Murnau. Esse filme é mudo, em preto e branco. Considerado o primeiro filme de vampiros e foi baseado no livro de Bram Stoker (Drácula). Um clássico do expressionismo alemão.
2 – Drácula (1931, EUA), direção de Tod Browning. Esse filme se tornou um clássico do horror. A famosa história do Conde Drácula da Transilvânia interpretada pelo húngaro Bela Lugosi que compensa todo o filme.
3 – O Vampiro da Noite (1958, Inglaterra), com direção de Terence Fisher. Um clássico cult de terror, em cores. Christopher Lee dá uma interpretação elegante e sensual ao Drácula.
4 – Rosas de Sangue (1960, França), direção de Roger Vadim. Baseia-se no conto de Sheridan Le Fanu e procura explorar o elemento sexual do vampirismo por meio da figura da mulher e do lesbianismo. O diretor privilegia os elementos estéticos em detrimento da trama.
5 – A Dança dos Vampiros (1967, EUA), direção de Roman Polanski, que também atuou com ator. O filme é uma mescla de trama policial e comédia. Tem-se aqui uma fórmula inovadora para tratar o universo vampiresco.
6 – Nosferatu no Brasil (1971, Brasil), direção de Ivan Cardoso. Filme produzido em super-8, mostra o famoso vampiro – Nosferatu – com seu ar assustador pelas ruas do Rio de Janeiro.
7 – Rock Horror Picture Show (1975, EUA), direção de Jim Sharmam. Uma comédia musical de horror, em que o Drácula é um homossexual. O filme é audacioso, engraçado e criativo. Uma peróla do horror.
8 – Nosferatu, o Vampiro da Noite (1979, EUA), direção de Werner Herzog. Remake do clássico de Murnau, também baseado no clássico de Bram Stoker. No elenco: Klaus Kinski e Isabelle Adjani. Uma obra-prima.
9 – Fome de Viver (1983, EUA), direção de Tony Scott. O vampirismo é renovado neste filme elegante, ousado e inesquecível. Um “cult” de vampiros que mescla suspense e sensualidade. No elenco, Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon.
10 – Drácula, de Bram Stoker (1992, EUA), direção de Francis Ford Coppola. O filme é refinado e o mais fiel ao original de Bram Stoker. A fotografia é uma verdadeira obra de arte. Ganhou três Oscars (efeitos sonoros, melhor figurino e melhor maquiagem) e foi indicado à categoria melhor direção de arte. No elenco: Gary Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins e Keany Reeves.
11 – Entrevista com o Vampiro (1994, EUA), direção de Neil Jordan. Baseado no livro de Anne Rice, que também adaptou o roteiro para as telas. Os atores Brad Pitt, Christian Slater, Tom Cruise e Kirsten Dunst estrelam o longa que foi um sucesso de bilheteria. O filme não possui o requinte artístico de outros clássicos, mas encanta e com certeza pode ser considerado um clássico mais contemporâneo.
12 – A Sombra do Vampiro (2000, EUA, Luxemburgo), direção de E. Elias Meckige. O ator Nicolas Cage ajudou a produzir este filme, cuja proposta é mostrar a produção dos bastidores de Nosferatu e criar um filme o mais realista possível. No elenco, John Malkovich e Willem Dafoe.
Como parte do estudo, a Coordenação propôs e o grupo aceitou assistir a três filmes sobre o tema:
Ø Nosferatu, uma Sinfonia de Horror, 1922, de F. W. Murnau
Filme clássico do expressionismo alemão, produzido em 1922, cujas imagens de horror ainda conseguem surpreender até hoje. Sem os recursos de tecnologia, efeitos especiais ou cores, passa muito bem o jogo de trevas e luz, resultando em sombra, que dá suporte ao personagem sombrio do Conde Orlock, que diz muito apropriadamente: “- Ninguém pode escapar de seu destino”. Pontos de destaque e discussão: o sangue, simbolizando a vida e também a morte, dependendo de que ponto se observa; a presença dos Sete Pecados Capitais como pontos de partida para a perdição humana: o apelo feminino; o amor como determinante do início e do fim. O letreiro final bem ilustra: “Ela desejou e realmente aconteceu. A grande mortandade acabou no momento em que os raios do sol triunfaram sobre o pássaro da morte e ele deixou de existir”.
Ø Drácula, 1931, de Tod Browning
Drácula, um dos clássicos do horror, coroado pela magnífica interpretação de Bela Lugosi, sua brilhante capa preta e os cabelos engomados para trás, lembrando as asas e cabeça de um morcego.
Pontos de destaque e discussão: novamente a presença dos pecados capitais como determinante das escolhas de vida e suas conseqüências. Símbolo cristão, a cruz, aparece como proteção na luta entre Bem e Mal.
Ø Drácula de Bram Stocker, 1992, de Francis Ford Coppola.
Aqui houve uma bem temperada sedução elegante do vampiro com sequências sexuais picantes, chegando ao bestialismo, sem, no entanto, perder o sentimento humano em sua busca do amor eterno.
Pontos de destaque e discussão: Os sete pecados se repetem, com ênfase na luxúria. A maldição que começa com o amor interrompido e termina com o amor interrompido. A proibição que atrai e desperta a curiosidade levando à perdição e nos reporta a Adão e Eva. O solo sagrado, onde tudo teve início, que serve de fonte realimentadora para a sobrevivência eterna. A loucura que enxerga a realidade (doutor Van Helsing). O sangue derramado pelo guerreiro cruzado, pela amada suicida, pela revolta contra a Igreja e contra o sacrário, gerando um mal eterno, que se faz presente ao mesmo tempo na morte (pelo Vampiro) e na celebração de vida na Eucaristia (o Corpo e o Sangue).
Houve também a leitura de trecho inicial do livro Drácula, de Bram Stocker.
Os livros, os filmes, o tema gerou muita discussão e reflexão por parte do grupo, sempre com a mediação da Coordenadora. Além dos pontos de destaque levantados após cada filme, muitos outros foram levantados.
A questão da vida eterna – em que momento seria? Na juventude, na maturidade, na velhice? Os vampiros clássicos se apresentam na maturidade, os atuais são jovens.
A questão do ser noturno, que sucumbe à luz do dia, nos clássicos, e os vampiros jovens que, não só saem à luz do dia, mas brilham ao sol. A questão do amor que celebra a vida e a morte. A vampirização metafórica (pessoas que sugam nossa energia). A carne como alimento e contém sangue.
O paralelo entre vampiros clássicos e contemporâneos mostrou que é evidente o apelo de mercado que ocorre atualmente. É claro que um tema de suspense e mistério, mesclado com romance de amor quase impossível, mexe com os adolescentes e também com os “nem tanto”. E vende livros e filmes e mais um sem número de coisas afins.
Fontes:
http://www.mulherdigital.com/filmes-classicos-de-vampiros/
http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo_c_190.html
http://www.flogao.com.br/psyvamp/foto/007/66255281
http://www.abril.com.br/noticia/diversao/5-cinco-livros-entender-vampiros-351748.shtml
Por Maria Ivone