segunda-feira, 17 de setembro de 2012


Sobre o bem e o mal
Como dois lados de uma moeda, o bem e o mal se implicam mutuamente, negam-se, misturam-se distinguem-se, convivem em complexa relação.
Olhando-os em separado, eles podem ser associados cada qual com um conjunto de afetos, sentimentos, atitudes e valores. Ao bem se vinculam o amor, a compreensão, o companheirismo, a caridade, o perdão, a abundância, a disposição em ajudar, a realização de ações que beneficiam o outro e suscitam no sujeito da ação sentimentos de bem-estar, satisfação, alegria, plenitude. Ao mal, por outro lado, vinculam-se o ódio, a vingança, a incompreensão, o golpe mortal, a inveja, a trapaça, o roubo, a miséria, o desejo de fazer sofrer, a realização de ações que destoem o outro e geram desarmonia, desequilíbrio, infelicidade, desassossego, desunião, aniquilamento.
Tomados, porém, em sua dinâmica relação no interior da existência humana, a aparência dualista se desfaz e, em sua essência, o bem e o mal são elementos que compõem uma unidade na qual eles podem se apresentar com nuances nem sempre percebidas à primeira vista.
No conto de Guimarães Rosa, “A hora e a vez de Augusto Matraga”, a personagem-título mata o bandido que quer assassinar uma família inteira; no combate com o facínora, também ele morre, mas morre feliz. Teria feito o bem? Ou seria um mal o que fizera? Para a família ameaçada teria sido, muito provavelmente, além de um grande alívio, um bem incomparável, mas para a família do bandido, talvez tenha sido um grande e irreparável mal. Oproprio MAtraga fora considerado um homem mau durante uma fase de sua vida; depois mudou seu comportamento, optando pelo assim chamado “caminho do bem”. Mas, ainda assim, depois da suposta conversão, há um momento em que se sente tentado a acompanhar as façanhas de malévolas intenções do bando de Joãozinho Bem-Bem, o mesmo bandido a que m matou ao final de sua vida.  Na mesma pessoa de Matraga, o bem e o mal se manifestam.
Se Matraga pode ser considerado como a simbologia do homem universal, então podemos argumentar, considerando sua história, que o homem, ao constituir-se como um ser humano, convive com as possibilidades de enfrentamento de situações que o colocam entre o bem e do mal e com todos os desafios que lhes são postos em cada escolha que fazem.
Stela Miller
Marília, junho/2012.

Livre trânsito

A possibilidade de ser o que sou, mas também ser Outra flutua entre o assustador e o encantamento. Luz e trevas caminham lado a lado e, às vezes, se cruzam, resultando tons cinza como madrugada de filme em preto e branco. É nessa sobreposição de tons que me acho e me encontro e encaro o espelho. Mas a imagem refletida não traz o rosto conhecido. Traços duros, olhos acesos, nariz adunco, queixo proeminente e um esgar de maldade no canto distorcido da boca. Completamente em transe me deixo levar e atravesso o limiar tênue que divide o bem e o mal. A Outra tudo pode, porque não se submete, porque não peca, porque não teme. E, por assim ser, transita plácida pelo submundo do crime premeditado. O punhal afiado, o corpo inimigo, o doce encontro dos dois... o jorrar do sangue... o tapete encharcado... o olhar sem vida... o prazer do dever cumprido. Fome! O levantar e descer do punhal resulta em fome avassaladora.
A luz incide na superfície do espelho indicando o fim do transe. Agora, a moldura encerra quadro com cena horripilante de corpo, sangue, tapete, punhal. Onde o espelho? Onde a Outra?
Abro a geladeira e me abasteço com o que há de melhor. O suor teima em escorrer pela face. Com gesto suave, deslizo os dedos para deter as gotas que mancham minha mão e o branco guardanapo de um vermelho vibrante...

Maria Ivone Pandolfi
10/05/2012

Faz bem, faz mal


                       Faz Bem
                       Faz mal.

Desde criança até hoje, esta história de BEM e MAL, BOM e MAU me desarranja a cabeça.
No Sítio Água do Norte, lá pelos idos dos anos 50, ouvia com freqüência as sentenças “julgatórias”:-
“Não porque FAZ MAL!” ou:-
“Sim porque FAZ BEM!”, em ocasiões as mais diversas.
Assim:-
Não coma manga depois de beber o leite!
Por quê?
Porque FAZ MAL!
Engula sem caretas esta canecada de chá de losna, ou esta colherada de óleo de rícino!
Por quê?
Porque FAZ BEM!
E pronto!
Nos idos de 60:-
Não lave a cabeça hoje. Você está em “dias de regras”.
Por quê?
FAZ MAL. O sangue sobe pelas cabeças!
Não olhe para aquele rapaz! Nem pense em namoro com ele.
Por quê?
Não é gente BEM. Pode lhe fazer MAL.
E Pronto!
Anos 70, 80:-
Não eduque seus filhos assim!
Por quê?
Porque não se sabe se FAZ BEM ou se FAZ MAL.
Anos 90, século XXI, ainda não sei o que é o BEM e o que é o MAL.
Se foi BOM, se foi MAL! Se fui BOA, se sou MÁ.

Iraci Pereira Mesquita de Melo

Oficina de Leitura – UNATI – 2012

Primeiro CICLO DE LEITURA 2012

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

UNATI – OFICINA DE LEITURA
ENCERRAMENTO DO 4 º CICLO DE LEITURA - 2011.
TEMA: SERVIDÃO VOLUNTÁRIA
TEXTO “DISCURSO DA SERVIDÃO VOLUNTÁRIA” de ETIÉNNE DE LA BOETIE
COLETÂNIA DOS TEXTOS INDIVIDUAIS – produzidos no dia 22/11/2011
SERVIDÃO VOLUNTÁRIA
A princípio, parece que a servidão voluntária não é o constante, mas caso esporádico.
Agora, porém, estou a pensar que ela se faz presente muitas vezes em razão de nossa afetividade, de nosso amor e respeito pelas pessoas.
Em razão disso, voluntariamente deixamos de nos rebelar, de nos mostrarmos contrários ao que querem de nós, por amor e respeito às pessoas, pelo desejo de não as contrariar.
BENEDITA PINHEIRO
ENTENDO que o HOMEM age em função do interesse, que por sua vez é fundamentado em necessidades.
A liberdade é mesmo natural?
ARLÊTA NÓBREGA ZELANTE
SERVIDÃO quando VOLUNTÁRIA nem sempre significa a submissão à vontade de outrem, pode ser por prazer de ajudar e se sentir útil.
JOSÉ CARLOS CAETANO
MEU PARECER sobre “Servidão voluntária.”
O que leva um indivíduo a servir? NECESSIDADE/INDIFERENÇA/IGNORÂNCIA/PRAZER/VAIDADE ou RECOMPENSA...
Com certeza em seu íntimo o servidor não está só submetido ao seu senhor. Ele retira do regime proveitos próprios.
CÉLIA GUEDES LICAS
O TEXTO sobre SERVIDÃO VOLUNTÁRIA nos permite, em uma análise política de nosso país, que nós povo e com nosso conhecimento, aceitemos que TIRANOS POLÍTICOS continuem dominando os novos eleitos.
Disso só podemos sair com profunda reforma política que atinjam os TRÊS PODERES.
LUIZ ORTOLONI
PARA MIM, SERVIR é estar com prazer, com LIBERDADE e VONTADE à disposição de ajudar ao PRÓXIMO.
SERVIDÃO é executar tarefas sem prazer quase como OBRIGAÇÃO.
TRINIDADE E. COSENTINO
A SERVIDÃO EXISTE porque vivemos em sociedade: GOVERNO, FAMÍLIA, ESCOLA, LEIS e mais leis...Porém a LIBERDADE é ter JOGO DE CINTURA para viver bem, aproveitando todos os bons momentos da vida.
SONIA ADORNO
A SERVIDÃO VOLUNTÁRIA está presente em determinadas FASES da vida de muitas PESSOAS e em diversas situações. Estou me referindo a MOMENTOS PESSOAIS.
ORCIZA SALGADO
SERVIDÃO não é ESCRAVIDÃO. O escravo não tem opção.
Quem serve muitas vezes tem.
Servidão voluntária é aquela A QUE NOS SUBMETEMOS por VONTADE ou CIRCUNSTÂNCIA e da qual preferimos não sair, por PREGUIÇA, ACOMODAÇÃO ou COVARDIA.
MARIA IVONE PANDOLFI
A TIRANIA utiliza-se dos mais variados instrumentos para DOMINAR, faz com que uma MENTIRA REPETIDA de forma constante torne-se uma VERDADE.
Assim como os ditados: “a mentira tem pernas curtas” e “não se pode cobrir o sol com a peneira”, a TIRANIA é MUITO FRAGIL e tem VIDA CURTA.
DIRCEU GOMES
Para mim as palavras SERVIDÃO e VOLUNTÁRIA são CONTRADITÓRIAS. Quando servimos voluntariamente estamos exercendo a LIBERDADE de ESCOLHA. Então, em minha opinião, só existe o LIVRE PENSAR.
CRISTINA MAEDA SAITO
Hoje em dia, como nos tempos idos, é temeroso afirmar que temos LIVRE ARBÍTRIO para pensar e agir conforme nosso gosto e desejo. Estamos constantemente sendo INFLUENCIADOS por idéias e comportamentos que nos induzem a determinado modo de vida. Nos mais simples atos do cotidiano, nos deixamos levar por trilhas muito bem premeditadas. São as ARMADILHAS com as quais o SISTEMA nos ILUDE a todo MOMENTO e que nos deixam ora ESCRAVOS ora SERVIDORES mas quase nunca VOLUNTÁRIOS.
IRACI P. M. MELO.

Impressões sobre a “Oficina de Leitura”
Maria Cecília Mattoso Ramos
(29/11/2011)


Meio que plagiando D. Rosa de Toledo César, digo que, nas minhas andanças pela Oficina de Leitura da UNATI – Unesp, eu ouvi discussões sobre temas relevantes e pertinentes que me obrigaram a reflexões sérias e... nem sempre agradáveis.
Diante da proposta de trazer para o grupo alguma coisa escrita sobre cada um dos assuntos analisados, devo confessar: identifico-me muito mais com o time da recepção de textos do que com o de produção.
O maravilhoso dom da criatividade passou longe de mim, não fui agraciada com ele. Face à tarefa sugerida, depois de pensar bastante, concluí que, depois de tanta gente boa e competente ter exposto suas ideias brilhantes a respeito dos temas, o que sobraria para eu falar?
Assim, como não consegui produzir qualquer contribuição pessoal, restou-me a possibilidade de levantar das leituras que realizei algo que pudesse ser útil.
Durante as discussões do grupo surgiram outros temas que, por paralelismo ou afinidade, juntaram-se aos originais e, como num jogo de “palavra puxa palavra”, ampliaram os primeiros. Assim, solidão → solidariedade → amigos; coisas boas da vida → amigos, relacionamentos [família → amor → sentimentos, amor →paixão → sexo → alegria → medo → fé → morte, velhice, natureza].
A leitura do texto “Da Servidão Voluntária” suscitou a reflexão sobre facetas que caracterizaram o ser humano desde suas origens, pois, a meu ver, o que nele predomina é o olhar historicizante que projeta o leitor à comparação das ideias da época de sua criação para os dias atuais: tirania, ausência de escrúpulos, corrupção de todo tipo, bajulação, falta de clareza a respeito da concepção de liberdade.
Houve também temas que, talvez inconscientemente, foram apenas tangenciados por serem ao mesmo tempo instigantes e incomodativos, como, por exemplo, medos, velhice, morte, insegurança, comodismo.

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Nosso Grupo de Leitura atualmente apresenta a seguinte formação: Iraci - Existencia; Ivone - Inspiração; J.C. Caetano - Reinvenção; Dirceu - Questionamento; Orciza - Reflexão; Sonia - Articulação; Elci - Entendimento; Cássia - Cordialidade; Dade - Criação; Vera - Saudade; Simone - Aquela que ouve!

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