sábado, 20 de julho de 2013

Uma pitada de Mitologia
Stela Miller

Segundo Sarah Bartlett, “os mitos são a expressão atemporal da imaginação, tanto coletiva como individual, e da nossa necessidade de compreender quem somos no universo.” Eles são concebidos pelos mais diferentes povos da Terra sob a forma de narrativas sagradas que têm por objetivo dar uma explicação para nossa condição humana, nossa relação com o divino e com a ansiedade e o medo diante do desconhecido.
Do ponto de vista de Angelita Viana Corrêa Scárdua, o Mito revela um tempo histórico que se caracteriza como o “tempo da luta humana para fixar-se como espécie sobre a face da terra e por isso mesmo um tempo heróico e fabuloso em que as forças da natureza ora eram vistas como ameaças devastadoras, ora eram vistas como recursos essenciais à sobrevivência do ser humano. Essas forças indomáveis do mundo natural tinham para nossos ancestrais a invencibilidade do sobrenatural, ou seja, daquilo que se sobrepõe à própria natureza e que é maior e melhor do que ela e, por isso mesmo, a única coisa capaz de gerá-la e expressá-la: os deuses.”
As narrativas míticas, desde suas origens remotas, foram transmitidas “oralmente de geração em geração, evoluindo e se desenvolvendo ao longo do tempo até se tornarem a base de muitas religiões” (BARTLETT). Tanto é assim que, em diversas mitologias há narrativas da criação do mundo que procuram explicar como surgiu o universo e os homens que o habitam.
Uma dessas narrativas, muito interessante, é a de Pan-Ku, de origem chinesa, que tem como base a ideia de “despedaçamento do corpo de um Deus”.
“Segundo a tradição, antes da separação do céu e da terra, o Universo assemelhava-se a um ovo gigantesco. Pan-Ku crescia em seu interior. Após dezoito mil anos, subitamente despertou e abrindo os olhos não se apercebeu de coisa alguma ao redor de si. Atordoado, tomou de um machado e girando-o com grande ímpeto, conseguiu quebrar a casca do ovo, com enorme estrondo...
“Pan-Ku continuava a desenvolver-se, tão forte e sólido, que sustentava o céu. Contudo, chegado o momento em que estando firmes o céu e a terra, entendeu não ser mais necessária a sua permanência na posição de eixo e assim deitou-se para morrer. E metamorfoseou-se. Magicamente sua respiração transforma-se no vento e nas nuvens, e sua voz no trovão. De seu olho esquerdo nasce o sol. De seu olho direito surge a lua. Mãos e pés criam as quatro direções cardeais  e as grandes montanhas. De seu sangue, o milagre dos rios, e dos nervos os caminhos naturais. De seus cabelos e barba criam-se as estrelas. De sua pele e pelos brotam árvores e outros vegetais. De seus dentes e ossos eclodem as rochas e pedras preciosas, as pérolas e o jade. E de seu suor, a fonte do orvalho e da chuva.” (FARJANI, 1991, p. 79-80, citando China, Lendas e Mitos, Roswitha Kempt Editores, Ching & Wei).
Na mitologia hindu, a mesma ideia aparece: o mundo é criado a partir do sacrifício (sacro-ofício, ou seja, “fazer o sagrado”) de Brahma.
Segundo Bronilaw Malinowski, “nas civilizações primitivas, o mito desempenha uma função indispensável: ele exprime, enaltece e codifica a crença; salvaguarda e impõe os princípios morais, garante a eficácia do ritual e oferece regras práticas para a orientação do homem. O mito, portanto, é um ingrediente vital da civilização humana; longe de ser uma fabulação vã,  ele é ao contrário uma realidade viva, à qual recorre incessantemente; não é absolutamente uma teoria abstrata ou uma fantasia artística, mas uma verdadeira codificação da religião primitiva e da sabedoria prática” (FARJANI, p. 51).
REFERÊNCIAS

BARTLETT,  Sarah (texto da Internet).
FARJANI, Antônio Carlos. A linguagem dos deuses – uma iniciação à mitologia holística. São Paulo: Mercúrio, 1991.

SCÁRDUA, Angelita Viana Corrêa. Entendendo os conceitos de arquétipos, mito e símbolo. (texto da Internet)

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