Uma
pitada de Mitologia
Stela
Miller
Segundo
Sarah Bartlett, “os mitos são a expressão atemporal da imaginação, tanto
coletiva como individual, e da nossa necessidade de compreender quem somos no
universo.” Eles são concebidos pelos mais diferentes povos da Terra sob a forma
de narrativas sagradas que têm por objetivo dar uma explicação para nossa
condição humana, nossa relação com o divino e com a ansiedade e o medo diante
do desconhecido.
Do
ponto de vista de Angelita Viana Corrêa Scárdua, o Mito revela um tempo
histórico que se caracteriza como o “tempo da luta humana para fixar-se como
espécie sobre a face da terra e por isso mesmo um tempo heróico e fabuloso em
que as forças da natureza ora eram vistas como ameaças devastadoras, ora eram
vistas como recursos essenciais à sobrevivência do ser humano. Essas forças
indomáveis do mundo natural tinham para nossos ancestrais a invencibilidade do
sobrenatural, ou seja, daquilo que se sobrepõe à própria natureza e que é maior
e melhor do que ela e, por isso mesmo, a única coisa capaz de gerá-la e
expressá-la: os deuses.”
As
narrativas míticas, desde suas origens remotas, foram transmitidas “oralmente
de geração em geração, evoluindo e se desenvolvendo ao longo do tempo até se
tornarem a base de muitas religiões” (BARTLETT). Tanto é assim que, em diversas
mitologias há narrativas da criação do mundo que procuram explicar como surgiu
o universo e os homens que o habitam.
Uma
dessas narrativas, muito interessante, é a de Pan-Ku, de origem chinesa, que
tem como base a ideia de “despedaçamento do corpo de um Deus”.
“Segundo
a tradição, antes da separação do céu e da terra, o Universo assemelhava-se a
um ovo gigantesco. Pan-Ku crescia em seu interior. Após dezoito mil anos,
subitamente despertou e abrindo os olhos não se apercebeu de coisa alguma ao
redor de si. Atordoado, tomou de um machado e girando-o com grande ímpeto,
conseguiu quebrar a casca do ovo, com enorme estrondo...
“Pan-Ku
continuava a desenvolver-se, tão forte e sólido, que sustentava o céu. Contudo,
chegado o momento em que estando firmes o céu e a terra, entendeu não ser mais
necessária a sua permanência na posição de eixo e assim deitou-se para morrer.
E metamorfoseou-se. Magicamente sua respiração transforma-se no vento e nas
nuvens, e sua voz no trovão. De seu olho esquerdo nasce o sol. De seu olho
direito surge a lua. Mãos e pés criam as quatro direções cardeais e as grandes montanhas. De seu sangue, o
milagre dos rios, e dos nervos os caminhos naturais. De seus cabelos e barba
criam-se as estrelas. De sua pele e pelos brotam árvores e outros vegetais. De
seus dentes e ossos eclodem as rochas e pedras preciosas, as pérolas e o jade.
E de seu suor, a fonte do orvalho e da chuva.” (FARJANI, 1991, p. 79-80, citando China, Lendas e Mitos, Roswitha Kempt Editores, Ching & Wei).
Na
mitologia hindu, a mesma ideia aparece: o mundo é criado a partir do sacrifício
(sacro-ofício, ou seja, “fazer o sagrado”) de Brahma.
Segundo
Bronilaw Malinowski, “nas civilizações primitivas, o mito desempenha uma função
indispensável: ele exprime, enaltece e codifica a crença; salvaguarda e impõe
os princípios morais, garante a eficácia do ritual e oferece regras práticas
para a orientação do homem. O mito, portanto, é um ingrediente vital da
civilização humana; longe de ser uma fabulação vã, ele é ao contrário uma realidade viva, à qual
recorre incessantemente; não é absolutamente uma teoria abstrata ou uma
fantasia artística, mas uma verdadeira codificação da religião primitiva e da
sabedoria prática” (FARJANI, p. 51).
REFERÊNCIAS
BARTLETT,
Sarah (texto da Internet).
FARJANI,
Antônio Carlos. A linguagem dos deuses
– uma iniciação à mitologia holística. São Paulo: Mercúrio, 1991.
SCÁRDUA,
Angelita Viana Corrêa. Entendendo os
conceitos de arquétipos, mito e símbolo. (texto da Internet)
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