terça-feira, 26 de julho de 2016

A VOLTA (Sonia)


Ele levantou-se cedo como sempre fazia. Era um costume vindo dos longos anos de trabalho.
Aposentado, não conseguia ficar na cama.  Sua mulher dizia que era um vício.
Saiu do quarto, foi até a cozinha, abriu o vitrô e olhou o céu azul; o dia já estava quente. Preparou o café. Sentou-se e saboreou os goles vagarosamente. Em seguida preparou outra xícara e levou para a mulher, que meio acordada curtia a cama mais um pouco. Sentou-se ao lado da mulher enquanto ela tomava o café. Ficaram ali ainda mais um pouco.
Ela se levantou para se trocar. Ele saiu do quarto e foi até a sala, ligou a televisão para ouvir as notícias da manhã.
Ela foi para a cozinha e preparou o café da manhã e os dois tomaram juntos como sempre fizeram. Terminado, ela foi cuidar dos afazeres da casa e ele sentou-se no sofá da sala para ler o jornal.
O dia amanheceu infernalmente quente.
Finda a leitura do jornal, dobrou-o e colocou sobre a mesinha. A mulher o leria depois do almoço e faria as palavras cruzadas.
Resolveu sair. Avisou a mulher que iria dar um volta. Saiu andando vagarosamente.
No caminho encontrou um velho amigo que terminara de fazer sua caminhada matinal. Cumprimentaram-se e foram tomar um café num barzinho próximo. Papearam por algum tempo. O amigo olhou o relógio. Despediu-se. Precisava levar o neto `a aula de inglês.
Sozinho, resolveu ir a um supermercado nas imediações. Lá havia ar condicionado e uma boa, música, quem sabe encontrar alguém para mais um papo.
Andou um pouco, olhou as frutas, as flores e pensou na mulher. Para agradá-la era só dar-lhe flores, elas eram sua paixão. De repente, sentiu um atordoamento e procurou um lugar para sentar; sentou-se num banco próximo e caiu para o lado.
As pessoas se aproximaram. Alguém ligou para o SAMU. Chegou rápido. O médico examinou o homem e imediatamente começou a massagem cardíaca, alguém chegou correndo com o tubo de oxigênio e outro com a maca.
Reagiu. Reanimado foi removido para o hospital. A família foi avisada. O filho deixou o trabalho e rumou para o hospital. A mulher desesperada queria notícias. A nora recém-chegada tentava acalmá-la.
O filho conversou com o médico.  O pai entraria para a sala de cirurgia. Coração.
Enquanto o filho preenchia a papelada para uma possível cirurgia, o médico informou que outro enfarto naquele momento tirava a vida do homem.
O filho voltou para a casa da mãe. Precisava avisá-la e também aos outros irmãos.
Em casa abraçaram-se aos prantos.
Depois saiu para preparar o funeral.
A notícia correu. O amigo da manhã quase desmaiou quando soube da notícia.

A mulher, inconformada, não parava de dizer “ele só ia dar uma volta, ele só ia dar uma volta”.

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