Nas férias do final do ano, viajei com a família para o
nordeste brasileiro, mais precisamente para S. Miguel do Gostoso, cidade praiana
a cem quilômetros de Natal, Rio Grande do Norte.
É uma cidade muito agradável, ainda com poucos habitantes,
praias lindíssimas e sem a "muvuca" da maioria das cidades praianas brasileiras
nessa época do ano.
E, ainda, a busca de novas fontes sustentáveis de energia
tem levado à região interessados na implantação do sistema de energia eólica, pois
como é do conhecimento de quem por lá transita, o vento é o companheiro sempre presente.
Por um lado amenizando o calor, mas por outro, cobrindo tudo e todos de densa areia.
No dia seguinte a minha chegada, após lauto café da manhã
com variadas iguarias regionais, sentei juntamente com meus familiares na beira
da praia apreciando o lindo espetáculo do mar, repleto de barcos de pescadores,
alguns banhistas e outros esportistas praticando Kite-surf.
A todo o momento passavam na praia Bugs guiados provavelmente
por pessoas sem muita prática e que atolavam na areia. Logo juntavam curiosos para
ajudá-los com variados palpites e pondo a mão na massa:
‑ Precisa murchar um pouco os pneus.
‑ É melhor dar marcha a ré e acelerar o Bug com força!
Nada disso adiantou...
‑ Vamos ficar pulando na traseira do Bug para fazer peso.
Depois de algum tempo e esforço o Bug finalmente andava.
E era aquela alegria!
Ao nosso lado, preguiçosamente deitados e dormindo estavam
dois cachorros. Quando cobertos pela areia se sacudiam e logo voltavam à posição
anterior, e assim passavam a maior parte do dia.
Os besouros tentavam se aproximar das flores das árvores,
mas eram impedidos pelo vento e após uma luta constante e inglória, às vezes até
desistiam do néctar...
Esse lugar privilegiado e pitoresco ficava ao lado do quiosque
da dona Rosa, quituteira de mão cheia que nos servia aperitivos e refeições.
Mais ao lado, armada entre duas árvores, uma rede balançava
vagarosamente, onde cochilava o companheiro de dona Rosa de nome Jouílame...! Ele,
depois de ser chamado insistentemente por ela, levantava sem pressa para comprar
peixes trazidos pelos pescadores. E lá ia Jouílame, homem alto, moreno, forte, boa
pinta, meia idade, se dirigindo preguiçosamente à beira do mar para negociar e,
após longa conversa, os peixes eram comprados e limpos por seus comparsas, que cuidavam
também do local. Tudo sob a supervisão do marido. Em seguida, os peixes eram preparados
pela dona Rosa e servidos para os turistas presentes. Acompanhava o peixe: farofa,
arroz e purê de macaxeira, a nossa mandioca. Tudo uma delícia!!
Ficávamos assim conversando, rindo, aproveitando aquele
momento que a vida nos proporcionava. E onde estava Jouílame? Lavando pratos, panelas,
limpando a cozinha?
Instantaneamente olhamos para a rede, e lá estava o marido,
recomeçando a dormir no vai e vem preguiçoso da rede. E ao final da tarde contava
a féria do dia, fechava o quiosque e provavelmente iria beber com os amigos e jogar
conversa fora, (que ninguém é de ferro!) e depois certamente dormiria o sono dos
justos...
E nós sem pressa, subimos nos Bugs e nos dirigimos para
outra praia um pouco mais longe para viver um momento inebriante, do sol se pondo
no mar... e a noite chegando...
Arleta