quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Haicai Sonia


Haicai
Li um velho cronista
Durante meses a fio
Amei  Rubem Braga
          2
Uma  luz  na escuridão
A leitura do grande  cronista
Rubem Braga irradia
         3
O outono vem chegando
Como a vida  então vivida
Lembranças são folhas caídas
        4
O astro rei surge
No horizonte como bola de fogo
O suor pinga do meu rosto
Haicais em homenagem a Rubem Braga
Stela Miller
Abril de 2013.

Do amigo Bandeira

Braga é sempre bom
E quando não te assunto
Então ele é ótimo!


Centenário

Cem anos agora
De um janeiro distante,
Fez-se Braga e Rubem.


Vida em crônica

Fez de cada crônica
Um microcosmo de vida.
Assim era Braga.


Fazendeiro do ar

Folhas entre nuvens...
O fazendeiro do ar
Cochila tranquilo.


Olhar poético

Visão do momento,
Mesa, papel e caneta:
Tudo é poesia...

Cronesia

Poeta escritor,
O cronista e sua pena:

Vida num lampejo.

Tempo e memória

Tempo e memória
Acabara de chegar em casa. Nem bem entrei com o carro na garagem quando a caminhonete estacionou e saiu um rapaz que logo reconheci. Era ele quem viera de manhã entregar o jogo de mesa e cadeiras que eu havia comprado no sábado. Comentei que não sabia como me desfazer da mesa e cadeiras antigas e ele se propôs a me ajudar. Conhecia pessoas que aceitariam ficar com elas. Combinamos que ele passaria mais tarde para levar.
_ Moça,  falei com sua mãe hoje de manhã. Vim buscar a mesa e cadeiras que ela vai doar.
Um pouco surpresa, eu lhe disse que era comigo mesma que ele tinha falado. Ele ficou meio sem graça, mas logo retrucou que ainda bem que me confundira com minha filha. Enfim, em questão de horas consegui remoçar décadas sem recorrer a cirurgia plástica, aplicação de botox ou a qualquer uma das artimanhas que proliferam no mercado dos produtos cosméticos. Contudo, essa simpática confusão criada pelo moço não muda o fato de que já alcancei o status de idosa.
Esse pequeno acontecimento tão banal que vou chamar de engraçado aconteceu há pouco tempo, não me lembro quando. Preciso ver o recibo da compra. Estou numa idade em que a memória (ou a perda dela) é motivo de preocupação. Onde é que estacionei o carro ou será que desliguei o forno são perguntas que não fazia até bem pouco tempo atrás, mas que hoje são recorrentes. Vivemos agora assombrados com o fantasma do Mal de Alzheimer; é o preço que pagamos pelo aumento da expectativa de vida.
Mas não fiquemos desanimados porque Leandro Karnal, com sua habitual e divertida ironia, em sua palestra sobre a utopia da melhor idade, aponta uma saída para isso. É só adotarmos uma dieta à base de pururuca e pastel de feira que a ameaça dessa doença tão comum hoje em dia desaparece.

Enfim, acho que divaguei um pouco na tentativa hercúlea de escrever este texto que pretende ser uma crônica. Porém, se não for, não tem a menor importância. Tenho certeza de que o Estatuto do Idoso me assegura o direito de não saber escrever crônicas.  Afinal estou na idade que pode não ser a melhor, mas que não precisa ser a pior, apesar da terrível dor nas costas que me acomete ao finalizar, como se dizia no meu tempo, estas mal traçadas linhas.
Cristina Saito

O anel

O anel
Rifas para vender... Nunca gostei de vender rifas. Acho constrangedor mesmo que seja para ajudar os doentes de câncer e o prêmio um anel valioso.
Como vender pelo menos alguns números da rifa? Estava cansada de sempre acabar comprando todos e nunca ganhar nada. Eis que surge uma ideia: venderia para minhas irmãs sem que elas soubessem.
Todos os meses, elas me mandam dinheiro para cobrir as despesas de minha mãe com  medicamentos cujos preços são pesquisados por mim previamente. O valor total é rigorosamente dividido entre nós. Cinco reais a mais para cada uma não faria diferença. De mais a mais, correriam o “risco” de ganhar um bom prêmio. Com certeza, depois que contasse a elas, ninguém duvidaria de que fora por uma boa causa.
Dos vinte bilhetes que eu tinha, preenchi seis com o nome delas e os restantes com o meu nome.
No dia do sorteio, após a divulgação do resultado pela loteria federal, recebi um telefonema dizendo que o número sorteado fazia parte dos blocos que estavam sob minha responsabilidade. Corri para verificar e “ pasmem”: uma das minhas irmãs era a vencedora!
Se eu ficasse calada, ninguém saberia (até os canhotos estavam comigo) e eu poderia ficar com o anel. Esse pensamento seguido de enorme sentimento de culpa passou tão rapidamente quanto chegara. A minha alegria então passou a ser a surpresa que faria às minhas irmãs no Natal que estava próximo.
Com a família toda reunida na véspera do Natal e entre risos, emoção e suspense, contei a estória da rifa do anel.
Peguei os canhotos com o resultado da loteria e mostrei o nome da Ana Cláudia, a sortuda. Aplausos, risos, alegria e decepção foi o que se viu em seguida.
Ana Claudia, dotada de um coração maior que seus 1,60 m, disse que todas eram merecedoras e que fazia questão de um novo sorteio na presença de todas. Resolvemos então colocar toda a família, que naquele momento era de 23 pessoas e fizemos uma rodada de bingo.
O barulho era ensurdecedor, a torcida grande e os gritos de sempre: chacoalha o saco, estou na boa, canta a minha, até que falei mais alto que todos:

--Bingo!
Celia

SEUS OLHOS
Seus olhos, tão negros, tão belos, tão puros,
 de vivo luzir,
estrelas incertas, que as águas dormentes
 do mar vão ferir;
seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
 de meiga expressão
mais doce que a brisa, — mais doce que a flauta
 quebrando a solidão.
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
 de vivo luzir,
são meigos infantes, gentis, engraçados
 brincando a sorrir.
São meigos infantes, brincando, saltando
 em jogo infantil,
inquietos, travessos; - causando tormento,
com beijos nos pagam a dor de um momento,
 com modo gentil.
Seus olhos são negros, tão belos, tão puros,
 assim é que são;
às vezes luzindo, serenos, tranqüilos,
 às vezes vulcão!
Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
 tão frouxo brilhar,
que a mim parece que o ar lhes falece
e os olhos tão meigos, que o pranto umedece,
 me fazem chorar.
Assim lindo infante, que dorme tranqüilo,
 desperta a chorar;
e mudo, sisudo, cismando mil coisas,
 não pensa — a pensar.
Nas almas tão puras da virgem, do infante,
 às vezes do céu
cai doce harmonia duma harpa celeste,
um vago desejo; e a mente se veste
 de pranto co'um véu.
Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
 de vivo fulgor;
seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
que falam de amores com tanta poesia,
 com tanto pudor.
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
 assim é que são;
eu amo esses olhos que falam de amores
 com tanta paixão.
                                                                          Gonçalves Dias
Do livro: "Livro do Corpo", LP&M Editores, 1999, RS
Enviado por: Márcia Maia

Seus OlhosSeus olhos - que eu sei pintar 
O que os meus olhos cegou – 
Não tinham luz de brilhar, 
Era chama de queimar; 
E o fogo que a ateou 
Vivaz, eterno, divino, 
Como facho do Destino. 

Divino, eterno! - e suave 
Ao mesmo tempo: mas grave 
E de tão fatal poder, 
Que, um só momento que a vi, 
Queimar toda a alma senti... 
Nem ficou mais de meu ser, 
Senão a cinza em que ardi. 

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'
O BOLSO

APRENDI QUE A VERDADEIRA CARIDADE É AQUELA DESTITUÍDA DE QUALQUER SENTIDO OU INTERESSE.
A CARIDADE NESSE SENTIDO É PARVA, NÃO VÊ, NÃO FALA, NÃO PENSA, SIMPLESMENTE É...
O QUE É MAIS FÁCIL, ENFIAR A MÃO NO BOLSO E DAR UM TROCADO, QUANDO MUITO UMA MOEDA, E
FICAR LOGO  E RAPIDAMENTE LIVRE DO PEDINTE INDESEJÁVEL ?
APRENDI AINDA, QUE , UMA CONVERSA, A ATENÇÃO CARINHOSA,É MAIS IMPORTANTE  QUE QUALQUER
VALOR EM ESPÉCIE, O QUE DIFERENCIA RADICALMENTE DA ESMOLA.
NA CARIDADE RACIOCINADA, O SENTIDO É BEM DIFERENTE, E DESCOBRIMOS QUE O "BOLSO" É A PARTE 
DO CORPO MUITO DOLORIDO, E QUE TODO O SENTIDO ACIMA EXPOSTO DE FATO NÃO É VERDADEIRO, E
QUE SE CRIOU TAL FANTASIA DA ESMOLA, DA CARIDADE, PARA QUE NÃO SE USE O "BOLSO", LOCAL SEN- 
SÍVEL, QUE NOS LEVA A RACIOCINAR E CRIAR MITOS EM DEFESA DO ESVAZIAMENTO DESTE APÊNDICE DO 
CORPO.
  

MARÍLIA, 26 DE MARÇO 2013
DIRCEU
+COMENTÁRIO BASEADO NA CRONICA DE LUIS FERNANDO VERISSIMO"CADERNO 2 EM 13/11/2011 eSTADÃO

domingo, 8 de setembro de 2013

Viagens-As Boas Coisas da Vida

AS COISAS BOAS DA VIDA
Considero as coisas boas da vida em três grandes grupos:
1-O Cotidiano, curtido dia a dia nas coisas mais simples e corriqueiras. O simples ato de se alimentar em companhia de familiares e amigos. Uma pequena reunião entre amigos e afins para jogar conversa fora. Assistir a um bom programa de música ou uma competição esportiva, só, ou com amigos acompanhados por uma cervejinha ou também ler um bom livro.
2-Viagens a lugares desconhecidos . Conhecendo novas pessoas e fazendo novos amigos.
3-Visita a parentes distantes no tempo e espaço. Não dá para descrever o prazer que isto nos proporciona. As lembranças da infância, dos avós, dos primos, dos tios e padrinhos, isto nos dá um sentido muito especial à vida.
Abaixo encontro com primos de Campo Grande e Aquidauana em julho de 2009.


Minhas primas. Abaixo Ponte sobre o Rio Aquidauana


Caminho pela estrada velha Campo Grande Aquidauana
Acima Igreja Matriz e a antiga residencia de meus avós paternos em Aquidauana
































Nas férias do final do ano, viajei com a família para o nordeste brasileiro, mais precisamente para S. Miguel do Gostoso, cidade praiana a cem quilômetros de Natal, Rio Grande do Norte.
É uma cidade muito agradável, ainda com poucos habitantes, praias lindíssimas e sem a "muvuca" da maioria das cidades praianas brasileiras nessa época do ano.
E, ainda, a busca de novas fontes sustentáveis de energia tem levado à região interessados na implantação do sistema de energia eólica, pois como é do conhecimento de quem por lá transita, o vento é o companheiro sempre presente. Por um lado amenizando o calor, mas por outro, cobrindo tudo e todos de densa areia.
No dia seguinte a minha chegada, após lauto café da manhã com variadas iguarias regionais, sentei juntamente com meus familiares na beira da praia apreciando o lindo espetáculo do mar, repleto de barcos de pescadores, alguns banhistas e outros esportistas praticando Kite-surf.
A todo o momento passavam na praia Bugs guiados provavelmente por pessoas sem muita prática e que atolavam na areia. Logo juntavam curiosos para ajudá-los com variados palpites e pondo a mão na massa:
‑ Precisa murchar um pouco os pneus.
‑ É melhor dar marcha a ré e acelerar o Bug com força!
Nada disso adiantou...
‑ Vamos ficar pulando na traseira do Bug para fazer peso.
Depois de algum tempo e esforço o Bug finalmente andava. E era aquela alegria!
Ao nosso lado, preguiçosamente deitados e dormindo estavam dois cachorros. Quando cobertos pela areia se sacudiam e logo voltavam à posição anterior, e assim passavam a maior parte do dia.
Os besouros tentavam se aproximar das flores das árvores, mas eram impedidos pelo vento e após uma luta constante e inglória, às vezes até desistiam do néctar...
Esse lugar privilegiado e pitoresco ficava ao lado do quiosque da dona Rosa, quituteira de mão cheia que nos servia aperitivos e refeições.
Mais ao lado, armada entre duas árvores, uma rede balançava vagarosamente, onde cochilava o companheiro de dona Rosa de nome Jouílame...! Ele, depois de ser chamado insistentemente por ela, levantava sem pressa para comprar peixes trazidos pelos pescadores. E lá ia Jouílame, homem alto, moreno, forte, boa pinta, meia idade, se dirigindo preguiçosamente à beira do mar para negociar e, após longa conversa, os peixes eram comprados e limpos por seus comparsas, que cuidavam também do local. Tudo sob a supervisão do marido. Em seguida, os peixes eram preparados pela dona Rosa e servidos para os turistas presentes. Acompanhava o peixe: farofa, arroz e purê de macaxeira, a nossa mandioca. Tudo uma delícia!!
Ficávamos assim conversando, rindo, aproveitando aquele momento que a vida nos proporcionava. E onde estava Jouílame? Lavando pratos, panelas, limpando a cozinha?
Instantaneamente olhamos para a rede, e lá estava o marido, recomeçando a dormir no vai e vem preguiçoso da rede. E ao final da tarde contava a féria do dia, fechava o quiosque e provavelmente iria beber com os amigos e jogar conversa fora, (que ninguém é de ferro!) e depois certamente dormiria o sono dos justos...

E nós sem pressa, subimos nos Bugs e nos dirigimos para outra praia um pouco mais longe para viver um momento inebriante, do sol se pondo no mar... e a noite chegando...
Arleta

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