quarta-feira, 18 de setembro de 2013


SEUS OLHOS
Seus olhos, tão negros, tão belos, tão puros,
 de vivo luzir,
estrelas incertas, que as águas dormentes
 do mar vão ferir;
seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
 de meiga expressão
mais doce que a brisa, — mais doce que a flauta
 quebrando a solidão.
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
 de vivo luzir,
são meigos infantes, gentis, engraçados
 brincando a sorrir.
São meigos infantes, brincando, saltando
 em jogo infantil,
inquietos, travessos; - causando tormento,
com beijos nos pagam a dor de um momento,
 com modo gentil.
Seus olhos são negros, tão belos, tão puros,
 assim é que são;
às vezes luzindo, serenos, tranqüilos,
 às vezes vulcão!
Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
 tão frouxo brilhar,
que a mim parece que o ar lhes falece
e os olhos tão meigos, que o pranto umedece,
 me fazem chorar.
Assim lindo infante, que dorme tranqüilo,
 desperta a chorar;
e mudo, sisudo, cismando mil coisas,
 não pensa — a pensar.
Nas almas tão puras da virgem, do infante,
 às vezes do céu
cai doce harmonia duma harpa celeste,
um vago desejo; e a mente se veste
 de pranto co'um véu.
Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
 de vivo fulgor;
seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
que falam de amores com tanta poesia,
 com tanto pudor.
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
 assim é que são;
eu amo esses olhos que falam de amores
 com tanta paixão.
                                                                          Gonçalves Dias
Do livro: "Livro do Corpo", LP&M Editores, 1999, RS
Enviado por: Márcia Maia

Seus OlhosSeus olhos - que eu sei pintar 
O que os meus olhos cegou – 
Não tinham luz de brilhar, 
Era chama de queimar; 
E o fogo que a ateou 
Vivaz, eterno, divino, 
Como facho do Destino. 

Divino, eterno! - e suave 
Ao mesmo tempo: mas grave 
E de tão fatal poder, 
Que, um só momento que a vi, 
Queimar toda a alma senti... 
Nem ficou mais de meu ser, 
Senão a cinza em que ardi. 

Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'

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