A Casa
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feitaSoneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Dissoneto de Infidelidade
Maria Ivone Pandolfi
De nada àquele sujeito serei atenta
Agora e sempre sem cuidado, sem pranto
Mesmo diante da sua cara de santo
Só darei a ele meu “fogo nas venta”
Quero desviver cada inútil momento
Que em sua companhia gastei meu tempo
E comemorar e rir de contentamento
Por sabê-lo em desgraça e sofrimento
E quanto antes pro inferno ele se for
Levando a corja com a qual convive
Deixando-me viver em paz, à minha moda
Eu possa me dizer da sorte (que tive)
Mas triunfo de mulher ante a traição e o desamor.
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero
Vinicius de Moraes
O barraco
Era um barraco
Com muita graça
Tendo por teto
Um pé de goiaba
Todos podiam
Entrar nele sim
Pois dentro dele
Tinha um jardim
Todos podiam
Dormir nas redes
Que estavam presas
Em suas paredes
Todos podiam
Fazer xixi
Em todo canto
Que havia ali
Ele era feito
De pedra e sargaço
Na rua dos Beijos
Bairro do Abraço.
Maria Ivone Pandolfi
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